27 agosto 2006

Crónica Marafada: O perfil do serrenho

Prezado amigo turista, prezado amigo algarvio, prezado amigo colono, a todos quero aqui fazer um convite: quem cá veio passar uns dias, quem cá sempre viveu e quem para cá veio há já muito tempo, precisa de uns passeios ao interior do Algarve para se enriquecer culturalmente. Não perca, portanto, todos os seus dias de férias na praia e no litoral.

Eu tenho milhares de km percorridos pelas 84 freguesias algarvias. E, melhor que isso, tenho milhentas de horas (boas horas) passadas em aldeias, aldeolas, lugares e lugarejos da serra algarvia. Foi esse património de vivências que me facultou a construção de um leque de 4 perfis psico-sociais em que por norma enquadro qualquer habitante adulto do interior algarvio, como vamos ver. A evolução demográfica da nossa Região tem de tal modo estigmatizado a vida do interior serrano, que permite encaixar nos seguintes itens a personalidade de quem por lá vive: 1- Os sobreviventes; 2- Os resistentes; 3- Os colonos; 4- Os refugiados.

Os sobreviventes são os que por lá nasceram e por lá foram ficando, meio amorfos, pouco cultos, deixando a vida passar-lhes ao lado. Foram vendo abalar os mais jovens, mas nunca ganharam coragem para se fazerem à estrada e à aventura. Por norma, têm medo das grandes urbes, da agitação citadina e das vivências metropolitanas. Ficaram. Porque ficaram. Simplesmente.

Os resistentes são os que viram sair os seus pares, mas sentiram um maior amor às suas terras, às suas raízes e aos seus antepassados. Foram vendo modificar-se a estrutura profissional dos meios produtivos, mas inventaram novos desenrascanços, sabendo potencializar o que a serra ainda dá. Foram sofrendo a menorização do estatuto do interior, mas não desistem. Resistem aos incêndios e às secas, mas também aos vendavais de tentações que a comunicação social lhes leva casa dentro.

Os colonos são os que, por aventura ou por necessidade, cá chegaram munidos de habilitações que os põem acima da média. Sentem que em terra de cegos quem tem um olho é rei e, através de artes negociais ou de potencialidades intelectuais, conseguem no interior um estatuto que nunca sobressairia numa cidade ou grande vila. Ao aperceberem-se de que estão dotados de certas ferramentas menos comuns naqueles meios, passam a usá-las como meio de notoriedade.

Os refugiados são os que fugiram de algum lado ou de algum sobressalto e encontraram no interior um refúgio. Fizeram-no por debilidades de inserção social, por fraquezas de índole psicológica ou por incompatibilidades com a sociedade competitiva moderna. Na nossa serra, encontraram a paz e o isolamento que não encontravam nos seus locais de origem. Constroem mundos e nichos muito próprios e realizam-se, sobretudo, na intimidade com os animais e as plantas e na harmonia com os elementos naturais.

Este estudo é uma pequena ajuda. Faça-se ao caminho, ciente de que, numa caminhada, o mais importante não é sabermos onde queremos chegar.

João Xavier

11 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado João Xavier, pelo seu excelente e esclarecedor artigo e pela sabedoria que nele transparece.

Anónimo disse...

Um retrato pouco real,pelo menos quando se traduz por pouco cultos e amorfos um dos grupos que o autor define.. Realmente se se traduz por pouco culto o não ter um curso superior (e não saber fazer nada) tem toda a razão.. Porém cultura não é só isso: Cultura é saber se aquela cortiça já está boa, se está na altura de apanhar o medronho, olhar para o céu e saber se vai chover se amanhã o vento estará Norte, se ali será um bom lugar para armar uma ratoeira pois anda ali um pisco..(Sabem o que é um pisco?) e muitas mais milhares de coisas que não se aprendem na Universidade. E então nós que somos da serra que não temos um canudo comprado numa qualquer universidade mas sim o canudo da vida concordamos com o autor: somos incultos e amorfos sim senhor mas temos vida própria e somos livres...

Anónimo disse...

Excelente e esclarecedor?
Praticamente todos nós, se considerarmos S.Brás uma Vila Serrana sabemos que não é nada assim.
Praticamente o autor divide o pessoal em quatro grupos:
Os parvos
Os menos parvos
Os mais parvos
os assim-assim
Sou de S.Brás e tenho dificuldade de escolher o meu grupo....
Vocês não?

GABO

Anónimo disse...

A conclusão do seu post «Faça-se ao caminho, ciente de que, numa caminhada, o mais importante não é sabermos onde queremos chegar» relembra-me uma das minhas passagens preferidas de «Alice no País das Maravilhas», que passo a citar:

Alice: «- Podias dizer-me, por favor, qual o caminho que hei-de seguir para sair daqui?»
Gato de Cheshire: «- Isso depende do lugar para onde queiras ir» - disse o Gato.
Alice: «- Não tenho preferências... »- respondeu Alice.
Gato de Cheshire: «- Então tanto faz» - disse o Gato.

Não concordo com a tipologia descrita no post, mas, opiniões são opiniões.

Ass: Gauvin

Anónimo disse...

sao bras nao e so a avenida o cafe da vila e pouco mais, sao bras e o resto o algarve tambem ,por isso dou a minha razao ao primeiro comentario,pelo menos deu-se ao trabalho de tentar conhecer o algarve profundo.foi a meu ver perceber o sentido do abandono do interior,poucos tem essa coragem.opinioes sao opinioes.

Anónimo disse...

Sr.Boina Preta obrigado pelo abraço e aceite a sua retribuição.Concordo com algumas coisas que afirma com outras não.
Porém evitava perder tempo com o meu pobre texto, gostaria sim que comentasse o texto do autor.
Concordo com o mesmo?

Anónimo disse...

Sr.Boina Preta então na sua opinião só os Dr(s) é que sabem da vida?? Coitados, quando chegam á vida real e veêm que a teoria da universidade não lhes serve para nada sem darem umas boas cabeçadas e foçarem um bocado.
E então quem tem o canudo da vida e esteja proximo da reforma não pode estar mais lúcido que estes pobres doutorzecos que por aí andem armados em sabe-tudo?

Anónimo disse...

Ai ai a dor de cotovelo que para aqui vai, «(...)opinião só os Dr(s) é que sabem da vida?? Coitados, quando chegam á vida real e veêm que a teoria da universidade não lhes serve para nada sem darem umas boas cabeçadas e foçarem um bocado.
E então quem tem o canudo da vida e esteja proximo da reforma não pode estar mais lúcido que estes pobres doutorzecos que por aí andem armados em sabe-tudo?»
Concordo que existem vários tipos de saberes, também concordo que os saberes dos populares que nunca tiveram, por diversas razões, acesso a um nível de educação mais elevado deve ser tido em conta...mas creio que a isso se chama experiência de vida e não um tipo de saber concreto.Sou um dos doutorzecos que critica, mas sabe que mais?O amigo, pela conversa, não é doutorzeco, não deve ser um projecto de doutorzeco e se calhar a idade ainda não lhe permite ter adquirido o saber proveninete da experi~encia de vida. Assim...deixe lá os doutorzecos...podem dar muita cabeada mas ao menos fizeram qualquewr coisa por eles, têm vontade de trabalhar e mais cedo ou mais tarde vão fazê-lo.Até porque, estou certo de que quando quer ir à praia não vai até Javali ou Cova da Munda 8sem ofensa aos habitantes) pedir a alguém que olhe po céu ou interprete as estrelas pa saber se nessa semana deve meter férias pa aproveitar a praia!Sabe o que faz?Liga o televiosr ou a net e consulta a metereologia...uma ci~encia levada a cabo pelos tais doutorzecos.
Mas permita-me uma sugestão, compre o Borda D'água e esteja atento às caniculas, assim não vai ter de recorrer a despreziveis doutorzecos.

Ass: um de mts doutorzeco deste país!

Anónimo disse...

Este é daqueles a quem só se dever responder: Quem se fica cardos come.

Anónimo disse...

Estes doutorzecos... A prepotência e altivez com que esta geração telemóvel fala...
Perdoai-lhes Senhor que eles não sabem o que dizem...

Anónimo disse...

Parece-me que há aqui uma indiferenciação/confusão entre os conceitos de cultura e folclore!
Contudo e para ajudar mais nesta confusão, sou da opinião que a cultura adquirida por meios eruditos e a sabedoria popular até têm alguns pontos comuns, aliás a cultura e o folclore são ambos produtos da humanidade. É uma espécie da história do ovo e da galinha…
Não me agrada particularmente a colocação de rótulos nas pessoas, cada ser é um microcosmos de sabedorias, à priori ou à posteriori, com tábuas mais rasas ou mais cheias, todos vamos acumulando conhecimentos (nem que sejam sobre as nuvens que vêm do Alentejo para o Algarve) e não há rótulo nem arquétipo que consiga estar à altura do conteúdo de cada ser. Eu então à luz das teorias desta crónica devo de ser uma Mutante! Pois sendo uma colona e sobrevivente meio amorfa e habitante adulta do interior algarvio por ter feito coisas desde guardar cabras, à apanha da alfarroba e azeitona, ao estudo da filosofia, da psicologia, das línguas e formação em informática. Agora nem sei afinal o que sou... em que perfil psico-social do autor desta crónica me enquadro??? Será que teria entrada directa no Júlio de Matos?!

Perfis psico-sociais uma ova! Somos todos microcosmos que compomos um macrocosmo.