12 fevereiro 2008

Pelcor

Objectos de pele de cortiça vão estar em 100 locais de venda até final do ano

José Manuel Oliveira in DN Online

Nasceu praticamente no meio da cortiça. Na infância passeava de burro com o avô paterno, António Correia, em propriedades da família no concelho de S. Brás de Alportel, na serra algarvia, onde brincava junto aos sobreiros e às alfarrobeiras. Na época própria, varejava amendoeiras. Ser "perseverante" e manter "os olhos bem abertos" foram os principais conselhos para a vida transmitidos por aquele familiar, que Sandra Correia sempre considerou "um sábio". Na fábrica de cortiça do pai, César Correia, conhecido ex-árbitro de futebol internacional, "brincava com pedacinhos de cortiça". Recorda o "cheiro da cortiça cozida", o "método de a trabalhar, os valores humanos e tudo o mais inerente" àquela actividade industrial, além da imensa curiosidade que a levava a "fazer muitas perguntas".

Já em 1995, então com 23 anos, e após ter concluído a licenciatura no Instituto Superior de Comunicação Empresarial, em Lisboa, Sandra Correia começou a trabalhar na empresa do seu progenitor, a Nova Cortiça, em S. Brás de Alportel, onde ainda hoje são fabricados milhões de discos para as rolhas de champanhe exportados para todo o mundo. Os "genes familiares" contribuíram para aumentar o interesse por aquele sector, até que surgiu a Pelcor, empresa inovadora a nível mundial ligada à comercialização de produtos manufacturados de pele de cortiça, a qual lidera há dez anos. "Surgiu exactamente devido a uma necessidade sentida na NovaCortiça, onde aprendi toda a técnica e fiz a minha escola", conta. "Quando em 2002, em face de várias conjunturas, tivemos um excedente de matéria-prima de qualidade, e uma vez que contávamos com parcerias com outras empresas, começámos a desenvolver a linha de produtos em pele de cortiça", lembra ao DN Sandra Correia. E por sempre ter sentido o sector "muito masculino", sonhou em dar a esta matéria "um toque e uma sensibilidade mais femininos".

Um guarda-chuva em cortiça, idealizado por aquela empresária, foi o primeiro objecto lançado pela Pelcor, numa Feira Internacional de Mulheres Empresárias Ibero-Americanas, em Almeria (Espanha). "As pessoas ficaram completamente boquiabertas por se tratar de uma grande inovação e não paravam de questionar como é que a cortiça nos pode proteger da chuva", congratula-se Sandra. Por ser na altura apenas uma amostra ainda sem cálculos de custo, nem tinha preço. Só depois foi colocado no mercado por cerca de 70 euros, que ainda mantém. A partir de então, não tardou a surgir com sucesso um rol de produtos, concebidos por designers, desde o pouf americano (uma espécie de banco), malas para senhora, pastas e sapatos, até candeeiros, blocos de apontamentos, canetas, cintos, molduras, porta-chaves, caixas, carteiras e luvas, com os preços a oscilar entre os cinco e os 280 euros.

Além de um estabelecimento em S. Brás de Alportel, a Pelcor conta com uma loja no Centro Comercial do Campo Pequeno, em Lisboa, e comercializa ainda os produtos num total de 60 unidades de retalho espalhadas pelo País. Até final deste ano, espera ver a pele de cortiça em cem estabelecimentos. Mas é na exportação que Sandra Correia mais aposta, em mercados como os Estados Unidos - o principal cliente - Inglaterra, Espanha, França, Japão e China. Em breve seguir-se-á o Dubai e os Emirados Árabes.

Se não fosse a cortiça, teria enveredado sempre pela área do marketing ou publicidade, por serem as de que mais gosta. Ou seria jornalista. "Outra área que aprecio imenso é a comunicação interna nas empresas, que já desenvolvi", afirma a empresária.

Madonna é a sua fonte de inspiração. "A forma como tem gerido a carreira de cantora e empresária é uma grande referência para mim", afirma. "Ela é de uma inteligência fabulosa, com excepcional capacidade de trabalho e ideias, e está sempre à frente na moda", enaltece Sandra. Elege como lema 'o sonho comanda a vida'.

Conta com nove colaboradores na empresa, todos jovens, cuja técnica é ser "simples" e "com uma leveza feminina" no tratamento cativa as pessoas. Define-se como "alegre, trabalhadora e comunicativa. "Quando tenho um objectivo luto por ele até ao fim", sustenta. "Sou perseverante e nunca desisto, factores decisivos para o sucesso empresarial", defende. Já o seu principal defeito é "pensar mais com o coração do que com a cabeça em termos financeiros. Muitas vezes, devia ser mais rigorosa e pensar mais em números. Tenho de deixar de ser benevolente. Ainda tenho uma visão romântica nos negócios".

Como "não se pode ter tudo na vida", Sandra Correia, que está a concluir, em Sevilha (Espanha), o doutoramento em Gestão e Estratégia na Área Empresarial, de forma a poder leccionar em universidades, prescinde, para já, de vida familiar. Benfiquista, com 36 anos e solteira, admite no entanto adoptar uma criança dentro de quatro anos.

Depois de ter ganho, em 2007, o prémio de Empreendedora do Ano, "o expoente máximo", atribuído pela Associação Nacional dos Jovens Empresários, não descura outras ambições na vida. Política? "Não, para já. O que não quer dizer que um dia não aconteça."

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