17 junho 2007

PJ alerta pais para perigos da Internet

10 por cento das crianças são abusadas sexualmente

in "O Algarve"

No Algarve, assim como no resto do País, existem vários casos de crianças com 12 anos, filmadas em situações mais íntimas, cujos vídeos circulam na internet.

A maioria deles foram efectuados a partir de telemóvel. Este é apenas um dos meios mais utilizados para realizar e divulgar pornografia infantil. As novas tecnologias de comunicação vieram lançar uma nova exposição das crianças à escala mundial. O MSN (troca de mensagens instantâneas), o Hi5 (plataforma para colocação de fotografias na internet) e os telemóveis são alguns dos meios utilizados para a propagação de conteúdos sobre crianças. Os perigos encontram- se presentes em salas de conversação nos canais de IRC, programas de mensagens instantâneas, grupos na Internet e exposição da privacidade, HI5,Yahoo,Fotologs e Youtube. “Através do Hi5 conseguimos saber imensos dados sobre as pessoas e até a sua localização.

As pessoas expõem-se muito e as crianças ainda mais: acabam por aceitar todos os que solicitam a sua «amizade» para aumentarem o seu índice de popularidade”, explica Ricardo Valadas.

Em Dezembro de 2006, existiam 70 milhões de páginas electrónicas com conteúdos pornográficos. A primeira visualização de pornografia ocorre, em média, aos 11 anos de idade e uma em cada dez conversas estabelecidas através com crianças na Internet resulta num contacto pessoal.

Os dados foram divulgados pelo inspector da Polícia Judiciária, Ricardo Valadas, durante o seminário «Crescer Criança», realizado no Cine-Teatro de S. Brás de Alportel, na quinta-feira. Responsável pelo projecto de prevenção «Anjos com Guarda», alerta para a necessidade de se encarar este problema com seriedade, mas sem entrar em “pânico”. Para os pais é importante acompanhar a utilização da Internet efectuada pelas crianças e tentar perceber qual a utilização dada aos computadores. “Muitas vezes, em programas de descarga de ficheiros da Internet, estes até podem ter o nome de Floribela ou Barbie, mas depois quando a criança vai abrir o ficheiro aparece um filme pornográfico, introduzido com esse nome para conseguirem chegar às crianças”, assegura. Ao descarregar vídeos e músicas, o computador estabelece uma comunicação directa com outro computador portador desse conteúdo. Durante essa comunicação bilateral, bastam 30 segundos para o fornecedor do conteúdo entrar no outro PC e copiar fotografias e vídeos. Nas salas de conversação os perigos aumentam.

“Os predadores sexuais sabem como é fácil arranjar informação, até com perguntas bastante simples”, garante. Fazem-se passar por crianças da mesma idade e fingem desejar apenas uma amizade. “Ninguém está seis meses a falar com alguém para ir tomar café ao jardim”, garante o inspector. As novas tecnologias vieram revolucionar a comunicação e abriram portas para o mundo exterior.

A Internet, criada durante a Guerra-Fria com objectivo de estabelecer a comunicação entre dois computadores, permite hoje a comunicação com milhões de pessoas, num mundo que tem pouco de “virtual”. “Os conteúdos que circulam na rede não são virtuais. Cada criança que se encontra naquelas fotografias e vídeos é bem real e provavelmente já foi abusada sexualmente”, explica referindo-se aos conteúdos pornográficos infantis.

Esta nova realidade veio alterar as preocupações de polícias, pais e psicólogos. No entanto, a pedofilia – acto sexual com crianças ou adolescentes contra a vontade destes – continua, em 80 por cento dos casos, a ser perpetrada por pai, padrasto ou parentes próximos da criança. A partir de 2003, o País assiste a uma divulgação maciça dos casos de abuso sexual de menores. De acordo com um estudo realizado em Portugal, uma em cada quatro raparigas e um em cada cinco rapazes são vítimas de abuso sexual e 50 por cento dos abusos ocorrem entre os cinco e os 11 anos. “Sem esquecer as crianças como a Fátima Letícia, que foi abusada com 50 dias pelo próprio pai”, refere o psicólogo Agostinho Grelha. Um pedófilo não tem um perfil típico, mas nunca reconhece os seus actos e nega sempre tudo. “O pedófilo é uma pessoa normal, que a determinada altura da sua vida, por diversas circunstâncias, tem uma fractura na sua personalidade. Nunca pedem ajuda porque não reconhecem que erraram e criam um mecanismo de representação, racionalizando os factos. Acreditam que até quando estão a violá-los lhes estão a fazer bem”, frisa. O psicólogo lamenta que apenas uma pequena percentagem dos casos de pedofilia sejam conhecidos e garante que é possível tratar um pedófilo. A farmacologia, as hormonas, a castração química e a psicoterapia são as modalidades utilizadas.

De acordo com Agostinho Grelha, “as crianças acreditam nos adultos. São pequenas e frágeis, mas têm um apertar de mão muito forte e firme. Quando são abusadas, dificilmente conseguem recuperar a confiança traída”.

Seres pensantes

“As brincadeiras são o ginásio cerebral das crianças”. afirmação é de Sónia Lopes, terapeuta ocupacional, que garante que esta é a mais importante forma de desenvolvimento. Ávidos de informação, a criança desenvolve as suas competências através das brincadeiras, em especial com os brinquedos mais simples. Com estes conseguem inventar novas brincadeiras diariamente, sem que se deixem de surpreender. Mas é nos adultos, que as crianças encontram o seu “brinquedo preferido”. Deste modo, a terapeuta afirma que os pais devem ter mais tempo para brincar com os seus filhos e deixar que estes lhes ensinem as brincadeiras.

Ao terminar a sua intervenção, Sónia Lopes deixou uma mensagem a todos os pais: “Quando as crianças são pequenas ofereça-lhes raízes profundas. Quando crescerem, dê-lhes asas para poderem voar”.

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