04 novembro 2007

Bons negócios na Serra

só com menos burocracia e proteccionismo










As ideias para investir existem e há também quem queira investir, mas a maioria dos projectos esbarra na reprovação das autoridades do ambiente e da agricultura.

As Serras e o Barrocal algarvios têm potencialidades para promover bons negócios, mas a burocracia e o proteccionismo das entidades oficiais impedem o avanço de muitos deles.

Esta foi a principal conclusão que saiu de um seminário promovido na passada semana pela associação ambientalista algarvia Almargem, em São Brás de Alportel, onde participaram empresários de turismo de natureza algarvios.

A Via Algarviana, um conjunto de trilhos pedonais e cicláveis que ligará Alcoutim a Sagres pelo interior da região, está perto de ser concluída e a Almargem, a principal promotora deste projecto, quer potenciá-la com a criação de pequenos negócios a ela associados.

Desde a vertente de promoção de passeios até à criação de pequenas unidades de alojamento, foram muitas as ideias que foram lançadas no seminário da passada semana.

No entanto, estas sugestões acabaram por não entusiasmar os empresários presentes, que estão habituados a receber respostas negativas, de cada vez que querem criar negócios no interior do Algarve.

Em causa, está o facto de a maior parte do território da Serra e do Barrocal, que a Via Algarviana atravessa, ser de Reserva Ecológica Nacional, Rede Natura 2000 ou Reserva Agrícola Nacional.

Um problema que foi mencionado por vários dos empresários presentes, com diferentes ângulos. A história de Hélder Amendoeira acaba por simbolizar bem as dificuldades que estes e outros empresários atravessam, quando tentam investir no interior.

Hélder Amendoeira é um dos sócios de uma empresa que promove desportos radicais, especializada na área de escalada e montanhismo.

«Existimos desde 1996 e andámos a desbravar o terreno nesta área», contou, numa conversa à margem do seminário.

Recentemente, a empresa decidiu criar um parque radical, onde pudesse desenvolver parte das suas actividades, nomeadamente aquelas com cariz mais pedagógico.

A ideia era aproveitar um terreno pertencente à família do empresário, na Serra do Caldeirão. «Mal disse que queria lá levar turistas, disseram-me logo que não», garantiu.

Burocracias a mais

O espaço em questão «tem rocha e estevas» e era utilizado «há 30 anos» pelo avô de Hélder Amendoeira para semear «trigo e milho». «Agora é um terreno de sequeiro, inculto», revelou.

Mesmo assim, não lhe foi dada a autorização para criar este parque, com a justificação de que «antigamente, o terreno era utilizado».

O projecto, garantiu o empresário, consistia na instalação de «estruturas amovíveis», que «estariam integradas na natureza».

A criação de um espaço onde pudessem desenvolver parte das suas actividades também se prendeu com o facto de, para poder utilizar zonas do domínio público, havia que «pagar taxas» a esta ou aquela instituição.

«Não sei para quê. Cada vez que fazemos uma actividade temos de ir uma ou duas horas antes, para limpar o local», contou.

«Preservação sim, mas com usufruto»

O docente da Universidade do Algarve Adão Flores, especialista na área e um dos oradores convidados, deixou bem claro, na sua intervenção, que «há que aliviar a carga ambientalista da sustentabilidade». Ou seja, «preservação sim, mas com usufruto».

«As pessoas que vivem no interior não podem ser impedidas de desenvolver as actividades» a que estão ligadas há séculos, considerou.

Neste campo, houve um especial enfoque na produção de cortiça, mas também de um produto regional de referência, a aguardente de medronho.

Durante a visita a um troço da Via Algarviana, promovida antes do seminário, os convidados tiveram a oportunidade de ficar a conhecer melhor as duas indústrias.

No que diz respeito à indústria corticeira, a sua continuidade não é posta em causa por normas comunitárias, apesar de as doenças que afectam o sobreiro serem uma preocupação.

Apanhar medronho como proposta turística

Já a indústria de produção de aguardente do medronho está a atravessar algumas dificuldades, uma vez que as regras são cada vez mais apertadas.

A associação In Loco, parceira do projecto Via Algarviana, é uma das principais defensoras da continuidade desta actividade no interior do Algarve.

Numa altura em que os produtores estão preocupados com o futuro, a associação lançou uma ideia de um produto turístico associado a esta actividade.

À semelhança do que já é feito no Douro, com a vindima e produção de Vinho do Porto, a associação de dinamização do interior algarvio quer fazer da apanha do medronho um produto turístico.

«Os turistas vão apanhar o medronho e tomam o farnel no campo. Mais tarde visitam a fábrica e vêem como é feita a aguardente. Além de aprender o processo, ganham uma garrafa de Medronho», explicou um dos representantes da In Loco presentes.

A associação vai promover uma primeira experiência desta actividade já no próximo sábado. A inscrição custa 20 euros e dá direito a farnel e a uma garrafa de medronho de 20 decilitros.

A apanha do medronho, em si, não será «nada de muito duro», servindo essencialmente para dar um conhecimento prático do que é a actividade.

hugo Rodrigues in barlavento

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