11 janeiro 2007

Acamados sem lugar no Centro de Saúde

Doação de beneméritos em causa

Doentes internados no Centro de Saúde (CS) de São Brás de Alportel, a maioria idosos, estão a receber ordem para abandonar a unidade de internamento, não havendo admissão de mais utentes naquele serviço. A medida está a revoltar a população, já que aquela infra-estrutura foi construída, integralmente, com bens doados por beneméritos – José Lourenço Viegas e a mulher, Leonor – que quiseram salvaguardar a velhice dos conterrâneos através da construção da obra.

Inaugurada pelo então Presidente da República, Américo Tomás, que se deslocou pela primeira vez a São Brás de Alportel no dia 8 de Novembro de 1966, para a sua abertura oficial, a unidade de saúde enfrentou depois várias vicissitudes, tendo sido entregue à Santa Casa da Misericórdia. Mais tarde, a instituição arrendou, através de um protocolo, as instalações por uma verba de cerca de três mil euros, à Administração Regional de Saúde do Algarve.

Os familiares dos doentes que estão a receber a ordem de saída, alguns deles com carácter urgente, não aceitam a decisão e protestam ainda contra o facto de terem sido informados em cima da hora, o que os impediu de encontrar uma resolução definitiva para o problema.

Uma fonte do CS considera “normal” que os doentes, após terem alta, deixem as instalações, embora reconheça que “alguns, em regime de internamento social, estão na unidade há mais de cinco anos”.

António Eusébio, presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, afirmou ao CM já ter sido contactado pelos familiares de doentes acamados que tiveram alta, mostrando o seu descontentamento.

O edil diz “estar na expectativa” tendo em conta que “o ambulatório do CS está em reestruturação”. António Eusébio sublinha que o Serviço de Atendimento Permanente encerrou no dia 1 de Janeiro, havendo a promessa de que passará a ter, no futuro, um funcionamento semelhante ao das Unidades de Saúde Familiar.

ADMINISTRAÇÃO REJEITA QUEIXAS

O presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, Rui Lourenço, refuta as acusações dos utentes e familiares visados pela medida aplicada no Centro de Saúde de São Brás de Alportel, afirmando que “o serviço de internamento daquela unidade continua a ter dez doentes acamados”.

O responsável garante que o problema “é as pessoas quererem ter internamentos sociais, o que não é comportável com os serviços prestados por um centro de saúde”. Quanto ao argumento de que a infra-estrutura foi doada à comunidade local, Rui Lourenço afirma que “aquele Centro de Saúde não foi alugado pela ARS Algarve à Misericórdia de São Brás de Alportel para fins sociais mas integrado no Serviço Nacional de Saúde”.

DEPOIMENTOS

"O MEU SOGRO FOI MORRER A CASA"
(ILÍDIO VIEGAS, 53 ANOS, COMERCIANTE)


“O meu sogro, de 89 anos, teve alta do Hospital de Faro no dia 14 de Dezembro, após ter sido operado a um cancro, e morreu no dia 28. No dia seguinte à alta tentei interná-lo no Centro de Saúde de São Brás, o que foi recusado. Alegaram não haver vagas. Tive de levá-lo para casa, sem condições para o tratar. Esteve a sofrer, sem qualquer qualidade de vida, pois não tínhamos conhecimentos para atenuar as suas dores.”

"UMA HORA PARA A MINHA SOGRA SAIR"
(MARIA JOANA COSTA, 61 ANOS, COSTUREIRA)

“A minha sogra, de 89 anos, partiu uma perna em Maio e, quando teve alta do Hospital de Faro, ficou internada no Centro de Saúde de São Brás de Alportel. Na semana passada avisaram-me que tinha uma hora para ir buscá-la. Não tenho condições para a ter em casa, pois moro num 3.º andar. Tive de levá-la para um lar particular a pagar 1165 euros e a sua reforma é de 400 euros. Não foi para isso que os beneméritos construíram aquelas instalações.”

Teixeira Marques, in Correio da Manhã.

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