20 março 2006

Fontes e Poetas

Fontes e poços valorizados recordam os poetas do concelho

Depois de Bernardo de Passos, João Brás e José Dias Sancho, será desta feita José Vicente o poeta são-brasense a ser recordado, no âmbito da acção de valorização dos poetas do concelho, que o Município desenvolve, deixando em cada fonte ou poço valorizado um pequeno excerto da poesia dos autores são-brasenses.

No Poço Velho, no Sítio da Mesquita, onde o poeta viveu, vai ser colocada uma placa com uma quadra de autoria de José Vicente de Brito.

Natural do concelho de São Brás de Alportel, este poeta popular nasceu em 1872 e faleceu em 1957, deixando na memória do povo a lembrança dos seus versos, que sempre o acompanhavam, assaltando as conversas e divertindo a roda de amigos… Versejando sobre as agruras de uma vida de trabalho, sobre tudo José Vicente deitava um mote e um conjunto de glosas que guardava na memória, já que nunca aprendeu a ler ou a escrever. Na lembrança, apontava uma poesia que se soltava da inspiração, tão naturalmente como água que corre da fonte.

Sem nunca ter tido oportunidade de ir à escola, a modesta vida no campo, agarrado à enxada, de sol a sol, não impediu que corresse nas suas veias o talento de poeta.

Lembram os mais antigos que depois do longo dia de trabalho, José Vicente passava sempre pela adega do Ti João Neves (em São Brás de Alportel) e depois de uns “copinhos”, soltava-se-lhe a língua em versejo. Por volta das cinco da tarde, passaria pela antiga adega um cauteleiro louletano, que ali aguardava a camioneta de regresso para Loulé, quase sempre na mesa de José Vicente. À desgarrada, os dois companheiros levavam horas a versejar sobre os episódios da vida e as grandes lições que dela se podem tirar. O cauteleiro chamava-se António Aleixo, poeta contemporâneo de José Vicente, que com partilhou a quadra e o olhar crítico sobre a sociedade do seu tempo.



Marlene Guerreiro