01 março 2006

Sete falhas sísmicas activas no Algarve

Falha de Loulé é uma das mais importantes.

Vilas do Bispo, Aljezur, Portimão, Albufeira, Quarteira, Vale de Lobo, Almancil, Loulé e São Brás de Alportel são algumas das localidades atravessadas por falhas sísmicas activas.

O diagnóstico consta da carta de risco sísmico elaborado no âmbito dos estudos do PROTAL – Plano de Ordenamento do Território, que identifica três níveis de falhas: as activas, as provavelmente activas e as secundárias.

Consideram-se falhas activas as que possuem evidências de deslocamentos suficientemente recentes para que seja expectável a ocorrência de novos incidentes, num futuro relativamente próximo, que tenham impacto na comunidade.

Já as falhas prováveis, ou potencialmente activas, são as que mostram evidências de deslocamento relativamente recente, mas para as quais não é possível aplicar, objectivamente, critérios de actividade.

Em estudos de perigosidade avalia-se a capacidade dessas falhas para gerarem movimentos do solo, designados vibrações sísmicas fortes, ou seja, sismos de magnitude elevada, superior a 6 na Escala de Richter.

Vila do Bispo e Aljezur estão ambas sobre a mesma falha activa, estando ainda referenciada uma falha activa provável próximo de Odeceixe e diversas falhas secundárias na zona da costa vicentina.

Junto a Lagos regista-se uma falha provável, enquanto em Portimão estão assinaladas duas falhas activas, da qual deriva uma outra, provável, que se estende até Monchique.

As zonas de Silves e Lagoa apresentam registos de falhas secundárias.

Em Albufeira, as duas falhas activas existentes correm respectivamente para Norte e Oeste, atravessando, por isso, a cidade e a zona da marina.

Em Quarteira, a falha inicia-se no litoral e prolonga-se pelo barrocal, até São Bartolomeu de Messines, só passando a falha activa provável já na serra do Caldeirão.

A falha activa de Loulé estende-se até o litoral, entre Quarteira e Vale de Lobo, e para Oeste. No sentido Leste está classificada como activa provável.Esta é, aliás, uma área sismogenética importante, associada aos sismos de 1719, 1722, 1856, 1896, 1962 e 1972.

Esta zona apresenta a maior concentração de falhas sísmicas secundárias que abrangem todo o concelho louletano e ainda São Brás de Alportel, que também apresenta uma falha activa a prolongar-se para Norte na Serra do Caldeirão.

Já Tavira e Faro são cidades sob as quais está detectada uma falha activa provável, enquanto no Nordeste algarvio, as ocorrências tectónicas são todas secundárias, embora numerosas.

Construção não cumpre regras

A partir de década de 90 estudos levados a cabo sobre fenómenos sísmicos permitiram constatar que as falhas geológicas podem interagir entre si, mesmo a distâncias consideráveis, da ordem da centena de quilómetros, e como tal, a ocorrência de um sismo numa falha não depende apenas da evolução da mesma, mas igualmente das envolventes.

Desta forma, um sismo, ainda que a uma distância considerável, pode induzir a ruptura de uma outra falha geológica, com um atraso que pode ir de alguns minutos a algumas décadas.

Na área atlântica adjacente, o Algarve está associadoao fim da zona de fractura Açores-Gibraltar.Por outro lado, a sudoeste do território português existe uma fonte de sismos muito importante, no Banco de Gorringe, situado a 200 km a sudoeste do Cabo de S. Vicente.

Esta estrutura submarina está relacionada com a fronteira entre as placas Africana e Euroasiática, onde provavelmente tiveram origem grandes sismos históricos, seguidos de "tsunamis", que se repercutiram catastroficamente no território.

São exemplo os sismos de 309, 1356, e de 1761 e mais recentemente, a 28 de Fevereiro de 1969. Esta é uma região de grande actividade e onde se ocorrem sismos permanentemente.

Em Portugal registam-se cerca de 360 sismos por ano, de magnitude fraca a média - inferiores a 5.0 - e, esporadicamente, um sismo de magnitude moderada a forte, superior a 6.0.

A actividade tectónica concentra-se, sobretudo, na região do Algarve e zona marítima adjacente, bem como Lisboa e Vale do Tejo.

Em geral não são os terramotos que matam, mas sim os edifícios e outras estruturas construídas. No entanto, a engenharia sísmica já desenvolveu técnicas avançadas de construção sismo-resistente.

Contudo, a implementação destas técnicas torna a construção mais cara e por isso os promotores imobiliários tendem a subestimar a importância da resistência anti-sísmica, e embora haja legislação sobre a matéria, os especialistas reconhecem não existir uma fiscalização eficaz, para avaliar o seu cumprimento.

Por outro lado infra-estruturas críticas como escolas e hospitais poderiam ser sujeitas a obras de reforço estrutural (retrofitting) nas regiões mais sensíveis, como é o caso do Algarve, o que também não se verifica.


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1 comentário:

Unknown disse...

Artigo bastante esclarecedor