02 março 2006

Lagar do Azeite

Lagar do Azeite.
MicroClima, edição fev. 06

Um lugar, um moinho, uma adega ou uma azenha não são lugares quaisquer. São engenhos que o homem idealizou e pôs a funcionar para transformar as dádivas da Natureza em criações suas para o seu prazer e bom-viver, tanto “do corpo como da alma”, embora também tenham servido para que o poder e a riqueza de uns crescessem à custa da servidão e da pobreza de outros.

Só para ilustrar a sabedoria que faz girar estas oficinas ancestrais e o útil que elas podem ser, resume-se de seguida uma lenda grega, relativa à vida de Tales de Mileto (sec.VII a.c.), por muitos considerado o “primeiro filosofo”:

Conta esta lenda que Tales, nas suas observações astronómicas, caiu num buraco quando caminhava a olhar para o céu. Todos se riram do episódio e aconselharam Tales a ter mais em conta os assuntos terrenos e que deixasse os astros que só lhe poderiam trazer aborrecimentos. Então o filósofo preparou a sua fria vingança, dando ao mesmo tempo uma lição aos seus conterrâneos sobre a importância do saber e a relação que tudo tem com tudo.

Assim, prevendo através das suas investigações e cálculos uma excepcional colheita de azeitonas - numa época em que uma crise continuada fizera já fechar inúmeros lagares – Tales arrendou todos os lagares das redondezas. Mais uma vez se riram os outros da pouca sensatez do sábio mas, nesse ano, as oliveiras apareceram carregadas e só Tales não foi surpreendido… porque quando cansados e satisfeitos com tantas colheitas so agricultores quiseram espremer as suas azeitonas, tiveram que se sujeitar ao monopólio e ao preço de Tales que, ao que consta, enriqueceu e concluiu: “Ás vezes compreender o céu, pode trazer benefícios na terra”.

Esta historia-parêntesis foi só para chamar a atenção para o Lagar do Féria.

Para muitos, e uma vez que cessou a actividade que lhe deu razão de ser, o Lagar deveria ser destruído para dar lugar, por exemplo, a um mercado.

Soubemos que em 1998 decorreram negociações para a venda do Lagar à Câmara Municipal, havendo na altura alguma preocupação quanto ao destino do edifício e do seu espólio, havendo inclusive a intenção de doar portas, portões e todo o recheio à Casa da Cultura/Museu Etnográfico.

Em 1999 a Casa da Cultura manifestou junto da Câmara a sua preocupação e propôs a preservação daquele edifício e a sua cedência ao Museu em condições a definir.

Entretanto o assunto esteve parado e, em Abril de 2004, o “Noticias de S.Braz” publicava com fotografia um artigo assinado pelo senhor José Mora Féria - A (triste) História do Lagar do Féria” – em que, depois de um longo resumo acerca das peripécias acerca da demolição/preservação do Lagar, o antigo proprietário concluía: “Hoje passados alguns anos, servindo de abrigo a vadios e repetidamente saqueado, o Lagar do Féria aguarda destino. A Câmara Municipal e o Museu/Casa da Cultura deverão assumir as suas responsabilidades”.

Sabemos que hoje as intenções políticas são outras e por isso fomos ao encontro do Vereador da Cultura, que nos revelou alguns pormenores acerca da futura Casa das Artes a que se destina o Lagar do Féria. Está previsto um investimentos de cerca de 500 mil euros a inscrever no orçamento da Câmara em 2007 e durante este ano deverá estar concluído e aprovado o projecto.

Vai ser instalado um Museu do Azeite, aproveitando-se as estruturas e os equipamentos existentes para uma exposição permanente sobre “O Ciclo do Azeite”. Salas para formação artística, um pequeno anfiteatro, bar e gabinetes de apoio também fazem parte do projecto, bem como o arranjo da zona exterior que envolve os eucaliptos presentes no local e que pertencem a uma espécie pouco comum.

Enquanto isso, com ou sem azeite, nós vamos num Teatro... à Brás.

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... Mas quem raio se haveria de lembrar agora disto!...
O Lagar do Féria, isso já era coisa que estava esquecida!...
Foi só noticia de jornal para a malta ler... no fim:
Falam, falam, falam, mas a gente não os vê fazer nada...
depois a gente aborrecese, não é!

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