Um pouco por todo o Algarve, o primeiro de Maio é celebrado com a degustação de caracóis em piqueniques na praia ou campo e com a saída à rua de uma peculiar tribo algarvia feita de trapos chamada de "Maios".
Os Maios são na realidade bonecos do tamanho de gente e feitos de palha de centeio, trapos, jornais, almofadas ou roupa velha e que são colocados pelos criadores (população algarvia) nas açoteias, janelas e à beira da estrada para celebrar o 1º de Maio e a chegada da Primavera.
Os Maios estão atentos à realidade nos nossos dias e todos os 1ºs de Maio vêm para a rua denunciar as más políticas vigentes no país ou simplesmente sentarem-se debaixo de uma sombra com o objectivo de celebrar o Dia Internacional do trabalhador sem fazer nenhum.
Um dos Maios encheu-se de coragem e resolveu mascarar-se de primeiro-ministro, José Sócrates, com um traje universitário e na lapela uma etiqueta a dizer: "Engenheiro Sogrates, engenheiro das Obras Feitas".
O cartaz ao lado do Maio mascarado de Sócrates, feito pelo seu criador, Miguel Marcelino, 12 anos, revelava ainda um poema onde se podia ler: "Para seres engenheiro/ não tens muito que estudar/basta teres muito dinheiro/ ou o povo em ti votar".
Como em todas as sociedades, também na tribo dos Maios há várias classes: uns são os satíricos, outros são mais mandriões e preferem fazer piqueniques à borda da estrada e mostrar o que se come no Algarve por estes dias, como as nêsperas, amoras, morangos e claro muitos caracóis e caracoletas.
Há ainda aqueles Maios que preferem fazer ciclismo, ir a funerais onde o morto ainda vai vivo ou celebrar casamentos à moda antiga.
Entre os Maios há também minorias que preferem fazer a apologia da defesa do Ambiente e apelam, com cartazes, à reciclagem vestindo-se com garrafas e garrafões de água, colocando no cabelo as carapaças ocas dos caracóis.
Perto da localidade da Fuzeta (Olhão), estava ainda um pequeno Maio, com um grande sentido cívico, a pedir aos donos dos animais para apanharem as fezes da via pública e um outro, mais gorducho a demonstrar que a comida rápida e com elevados níveis de gordura faz mal à saúde.
Os Maios, primos afastados dos fantoches e espantalhos, sempre encantaram a população algarvia e do resto de Portugal, e muitos enfrentam longas filas no trânsito na EN 125 só para verem os bonecos e recolher ensinamentos ou tirar uma fotografia com aquelas "celebridades".
Sou do Alentejo e há cinco anos que venho ver os Maios. É uma ocupação das pessoas que vem de antigamente e vale a pena vir recordar como elas se vestiam", disse à Lusa Ana Paula Marques, 42 anos.
Uma das criadoras dos Maios, Sandra Sousa, 20 anos, afirma que este ano se esmerou para dar vida aos seus bonecos, comprando luvas de látex para dar forma às mãos com ar e unhas falsas para conseguir dar um ar chique à senhora Maio no piquenique dos caracóis. Com um carácter pagão, antigamente as festas de Maio duravam três dias. Hoje reduziu-se a celebração da Primavera para um dia, e há cada vez menos exemplares de Maios espalhados pelas janelas e telhados do Algarve, passando a ser mais uma forma dos negócios de estrada conseguirem vender mais petiscos e bebidas.
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