Sambrasense por laços familiares e por opção de vida –“ A Vida é uma dádiva que devemos retribuir”-tem-se dedicado desde há cerca de 15 anos ao Museu do Trajo, primeiro como colaborador voluntário, em troca da anterior profissão na área do Turismo, e desde 1996 como seu director.
Fomos conversar com Emanuel Sancho para tentar perceber as ideias e as acções de alguém que vê “na intervenção cívica voluntária e livre o contributo que cada um pode e deve dar à comunidade onde vive e à qual tem a sorte de pertencer”.
Naturalmente falamos do Museu, “dos raros que não é do Estado nem da Autarquia”, e de um trabalho que aos poucos vai dando os seus frutos. “Os projectos culturais e artísticos não podem seguir o ritmo das campanhas e dos mandatos políticos”. Como exemplos refere-nos “ o registo fotográfico sobre a evolução urbanística do Algarve desde o início do séc. XX, com registos sistemáticos desde os anos 80 e que já conta com cerca de 50.000 imagens, e a digitalização de vários arquivos familiares que estão em fase de organização e brevemente poderão ser consultados pelos interessados; projectos com esta dimensão que impliquem prazos mais alargados são muitas vezes interrompidos, ou nem sequer iniciados, em função das alterações e mudanças de projectos políticos que têm objectivos mais imediatos do que o desenvolvimento cultural das comunidades”
Ouve-se um burburinho de vozes e passos no corredor; é mais uma visita ”desta vez são cerca de 100 pessoas num programa do INATEL”. A conversa pode continuar porque “há gente a tratar de tudo”. Embora com um quadro de pessoal composto por 3 funcionários (incluindo o director), a verdade é que a dinâmica e a abertura do Museu têm atraído a colaboração voluntária de muitos interessados, existindo desde Maio de 2005 um grupo de 230 Amigos do Museu (a maioria estrangeiros!) que tem contribuído para a realização de actividades lúdico-formativas que vão do Teatro à Música e à Dança, passando por Palestras e por todo um conjunto de tarefas indispensáveis ao funcionamento da estrutura. “Muitas vezes são os interessados que tomam a iniciativa e propõem actividades que passam a fazer parte da vida do museu”.
Também se falou da actividade cultural Sambrasense “ houve uma época muito importante e incontornável que abarca os finais do séc XIX e o início do séc XX, primeiramente no domínio dos ideais e da acção política e depois no âmbito das letras e das artes… mas as circunstâncias eram diferentes “ E quanto aos dias de hoje? “Sabe, às vezes é-me difícil conciliar a individualidade enquanto cidadão com a minha função de director do Museu, para que uma coisa não prejudique a outra. De qualquer dos modos, e falando de uma forma genérica, devia existir um maior distanciamento entre o poder político e a cultura porque muitas vezes - e na História Mundial encontramos inúmeros exemplos - os agentes culturais perdem a sua liberdade ao sujeitarem-se a compromissos que os podem transformar em meras imagens do poder. O ideal seria que fossem as instituições vocacionadas para as actividades artísticas e culturais a organizar os eventos e não as autarquias ou o governo, cuja função mais adequada seria a de criar condições e possibilitar a continuidade do trabalho dessas mesmas instituições, de modo a melhorar o presente e a assegurar o futuro. No entanto, e no caso de S.Brás, as potencialidades são imensas: actualmente assiste-se a uma recuperação demográfica e uma fatia importante da população é constituída por estrangeiros das mais variadas origens, o que pode resultar num fenómeno de multiculturalidade muito interessante e enriquecedor”.
E quanto a medidas importantes? “ Talvez mais abertura e debates com o envolvimento de um conjunto alargado de individualidades quando são decididas intervenções mais profundas, nomeadamente nos domínios arquitectónico e urbanístico… e perceber-se que as recuperações de centros históricos devem ser acompanhadas de medidas que revitalizem efectivamente esses centros e não os transformem apenas em lugares agradáveis aos olhos de quem por lá passa…”.
No caso concreto de S.Brás “ que apesar de tudo tem resistido bem à pressão construtora, é urgente prevenir a importante e característica reserva das Hortas e dos Moinhos, já ameaçada e apetecível devido à variante recentemente construída, inviabilizando-se à partida qualquer tentativa de construção. Também de importância crucial é a definição da zona industrial, para que não se continue a assistir a um salpicar incaracterístico e pouco funcional de fábricas e armazéns por entre casas de habitação…”
Temos que ficar por aqui… de muito mais se falou e muito ficou por falar. Fica para a próxima. Obrigado Emanuel Sancho.
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