“Isto é bom, para a gente se rir”, diz uma das septuagenárias, junto ao lavadouro da aldeia de Mesquita,
Sentados num banco, cinco idosos ainda comentam, como se fossem crianças, o espectáculo a que acabaram de assistir. “Estas estórias são engraçadas, a gente já as conhecia, são do tempo da minha avó”, recorda Maria Inácia.
Dentro do autocarro, não pararam sossegados. “Isto faz lembrar os bonecos que havia – dizia uma senhora - referindo-se, provavelmente, aos de “Sto. Aleixo” que outrora existiam nas feiras.
Em palco, Jorge Soares – o Lobo -, Patrícia Amaral – a Raposa – e Carla Dias – a Ovelha e mais um par de bichos -, dão corpo às personagens que transportam as Fábulas de
O lobo, a raposa e as ovelhas mexem-se como podem, num espaço reduzido que os actores fazem parecer enorme. A transformação acontece sempre que a porta do autocarro se fecha.
Revestido a preto no interior, tem montada uma “teia” de iluminação, régie de som e luz, palco à frente e plateia atrás.
Os 30 lugares encheram, com mais idosos do que crianças!
“Há muitos que quando é a primeira vez chegam a medo, e depois na segunda sessão já vêm muitos mais, porque passam palavra. E até repetem, vêm ver duas vezes a peça!”, diz Patrícia Amaral, a coordenadora do projecto “VATe - Vamos Apanhar o Teatro”, da ACTA, a Companhia de Teatro do Algarve.
Patrícia já perdeu a conta às vezes que vestiu a pele de raposa, mais de cem, seguramente. Muitas delas nas escolas, com direito a segundo acto. “Nas escolas, fazemos o espectáculo de manhã, e à tarde damos um atelier, em que pedimos às crianças para inventarem uma estória. Depois, passados três meses, voltamos a essa escola e somos nós que nos sentamos no lugar do público, eles são os actores, e isso é muito interessante”, explica.
Numa iniciativa inédita no Algarve, estes três actores levaram a arte de representar a locais onde o teatro nunca tinha pisado. Deste trabalho, tiram uma experiência gratificante: “Há muitas crianças que nunca foram a uma sala de teatro ou de cinema, e esta é uma oportunidade única. O autocarro é mágico, e este espaço ajuda-nos bastante na formação de públicos”, acrescenta.
O “teatro itinerante” começou a circular pelo Algarve
Lá fora, no banco, os “velhinhos” recordam outras estórias, como a de um neto que em França enfiou a cabeça nas grades de uma vedação, e depois não conseguia sair. “Estava a ver que tínhamos de serrar aquilo ou então tínhamos de matá-lo! (risos)”
A estória fez rir os presentes, quase tanto como as peripécias do lobo e da raposa, que terminam as suas actuações, em Parises.
“Parises” e não “Paris”, é uma pequena aldeia
Quanto ao VATe, em breve deverá regressar à estrada, mas com uma nova peça: “Mahura”, baseada em contos africanos e com uma forte componente ambiental.
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