17 maio 2007

Os "ocos" do sistema

Há um sem número de pessoas, cada vez maior, que se caracteriza por não terem interesse por nada, nem ninguém. Olham para um blog e dizem "não tenho paciência para isto". Olham para um jornal e dizem "não tenho paciência para isto". Esses ocos não sabem o que se passa no mundo que bem poderia estar prestes a terminar que eles nem dariam conta de nada.


Esses ocos pura e simplesmente não querem saber de nada.
Não querem saber de ir votar.
Não querem saber de reclamar, porque não vale a pena estarem-se a chatear.
Não acreditam, nem têm fé em nada.
Não têm ideologias, nem utopias.
Não se inscrevem em partidos, nem em sindicatos.
Não pagam quotas de nada, porque não se interessam por nada.
Não querem saber de resultados, sejam eles do futebol, das eleições ou de um concurso (de um concurso, se calhar, talvez).

Para eles tudo se resume a uma questão material: o mundo divide-se entre os que gozam dos bens materiais, os que não têm bens materiais e os que tentam tudo por tudo, enquanto estão vivos, para poder obter mais bens materiais, à custa dos outros.

Já Thomas More dizia destes ocos, a propósito da nobreza inglesa da altura, que eram tão ocos e desinteressados que eram capazes de adormecer, roncando em bom som, durante o sermão da montanha.

Lembro-me de uma reportagem televisiva onde, num país nórdico, caracterizado pelo bem estar e comodidade o Governo dava subsídios a jovens e associações civis para protestarem acerca de qualquer coisa fosse o que fosse. A ideia era tentar combater a passividade e aburguesamento da sociedade civil.
Vejam ao que se chegou nesses países dormentes e anestesiados pelo bem estar pós-moderno...

Não me considero melhor do que estes ocos, porque em muitas coisas e aspectos eu também me posso considerar um oco. Porém, a diferença é que eu ainda acredito em valores e na utopia, por mais longínqua que ela possa parecer ou por mais fraco que possa parecer o Ser Humano.

Deus nos livre destes ocos que andam por aí e nos estão muitos próximos, no nosso local de trabalho e até, quiçá, nas nossas próprias casas.

Não façamos dos nossos filhos uns ocos.

É importante que eles acreditem em algo, mesmo que não acreditem neles próprios.

Chesterton dizia no seu livro "Ortodoxia" que o terem-lhe ensinado, quando era criança, a história da "Alice no país das maravilhas" tinha sido importantíssimo na sua formação. O acreditar em algo mais para além das nossas próprias limitações, mesmo que não seja um Deus, mesmo que seja uma ideologia ou um qualquer paixão, desde que seja "algo que vai mais para além do que nos rodeia" é importante.

Ser oco é ser, afinal, velho e morrer inutilmente porque se viveu para nada; viveu-se só para respirar, se alimentar, se divertir e o resto QUE SE LIXE!

O pior e o mais perigoso é quando os que não são ocos se aproveitam dos ocos para gerir, dirigir e manipular o mundo.

Ocos deste mundo, mexam-se, acreditem em algo ! acordem !
Deixem essa sonolência, esse borrifarem-se para tudo o que ultrapassa o vosso circulo de bem estar material !

Despertem!


por: Miguel Reis Cunha

4 comentários:

Anónimo disse...

Não façam barulho, deixem-me dormir.

Anónimo disse...

Um oco sem conteúdo inaugurou os comentários...!

Anónimo disse...

espétacularifiko o discurso...parabéns


com espinhas

Anónimo disse...

parabéns. finalmente alguem se lembrou de retratar a sociedade portuguesa no sec. XXI.