In:Correio da Manhã 16/09/2006
O que podia esperar da Justiça o homem que matou os sogros à bomba? Jorge Mendonça esperava compaixão e acreditou, até ao último dia do julgamento, na bondade do tribunal. Justificou o crime com os anos de humilhação a que os sogros, ricos e impiedosos, o sujeitaram durante anos a fio – mas os juízes condenaram-no sem contemplações à pena máxima, 25 anos de cadeia.
Uma bomba, colocada nas costas do banco do condutor, estava preparada para rebentar duas horas e 45 minutos após o início da viagem. O engenho, de fabrico artesanal mas com dedo competente, funcionou como o assassino previu. A brutal explosão deixou o carro em chapa retorcida: o tejadilho e os bancos foram projectados a considerável distância e o que restava da carroçaria agarrada às rodas foi parar ao outro lado da estrada.
A bomba de gelamonite era um prodígio da técnica: tinha sido accionada por um engenhoso temporizador, que estava ligado à ignição do carro e servia para marcar a hora da explosão.
Naquela manhã de Setembro, quando pôs o motor do automóvel a trabalhar à porta da sua casa de Quarteira, Joaquim Galego assinou a sentença de morte – a sua e a da mulher. Iniciou a viagem cerca das 07h30. A bomba estava programada para deflagrar daí a duas horas e 45 minutos – e rebentou à hora marcada, precisamente às 10h15. A explosão foi testemunhada por um camionista.
Uma brigada da Direcção Central de Combate ao Banditismo, o departamento da Polícia Judiciária dedicado à criminalidade violenta, começou a investigar o crime.
O genro das vítimas, Jorge da Encarnação Mendonça, era especialista em electrónica. Vivia com a mulher, Ana Maria, e um filho pequeno, em São Brás de Alportel, no Algarve. Nas traseiras da casa explorava uma oficina de reparação de televisores – onde uma bomba como aquela podia muito bem ter sido fabricada.
O genro comovido com a morte violenta dos sogros passou a ser encarado como o principal suspeito do crime. A brigada da Polícia Judiciária, nas horas seguintes, descobriu o ódio que Jorge, ao longo dos anos, foi destilando pelo sogro. Seria essa raiva suficiente para o levar a matar? Os investigadores da Polícia Judiciária estavam convencidos de que sim. Mas faltava à PJ provas seguras de que fora ele o autor do atentado.
Joaquim Galego, que amealhara fortuna com o negócio da cortiça, lastimava alto e bom som que o genro, acomodado na pequena oficina de electrónica, fosse homem para se contentar com vida remediada. A sogra, Odete, ajudava à festa. Jorge era desconsiderado sem piedade – e custavam-lhe ainda mais os enxovalhos que recebia à frente do filho.
Nos últimos tempos, para mal dos seus pecados, o sogro abrandara nos negócios e passava mais tempo no Algarve. Era dono de um apartamento em Quarteira e da moradia de São Brás de Alportel onde o genro, a filha e o neto viviam de favor.
Quando o sogro lhe aparecia em casa, cada vez com mais frequência, refugiava-se na oficina. Joaquim não se cansava de lhe atirar à cara os 1500 contos que lhe emprestara para equipar o estabelecimento.
Jorge Mendonça amadureceu o plano para matar os sogros – à bomba. Só precisava de dois cartuchos de gelamonite. O resto seria construído no segredo da oficina de electrónica.
Em meados de Julho de 1996 a bomba já estava pronta. Jorge colocou-a então no carro dos sogros – mas faltou-lhe a coragem para a accionar. Ficou a remoer o assunto. Joaquim Galego andou quase dois meses com a bomba no carro.
Dia 1 de Setembro, um domingo, os sogros apareceram-lhe em casa, manhã cedo: iam à praia e queriam levar o neto. O menino lá foi com o os avós. No regresso da praia, à porta de casa, Joaquim Galego obrigou o neto a limpar-lhe a areia dos pés. Jorge contou este episódio em tribunal – e garantiu aos juízes que nessa altura, indignado com tamanha humilhação, resolveu accionar a bomba que poria ponto final às desconsiderações.
Sabia que os sogros planeavam partir na terça-feira de manhã para o Montijo. Livrava-se deles e, com a herança, nunca mais passava por apertos financeiros. Nessa madrugada conseguiu programar a bomba para explodir duas horas e 45 minutos depois de Joaquim ligar a ignição. E a bomba funcionou.
CONFISSÃO
Jorge da Encarnação Mendonça, de 50 anos, ainda resistiu a confessar o crime. A Polícia Judiciária tinha a convicção de que ele era o autor do atentado – mas não havia uma única prova inabalável contra o suspeito. Os investigadores da PJ estavam desde o início apostados em obter uma confissão. Jorge negava tudo. Foi detido. A brigada da Polícia Judiciária utilizou uma táctica habitual: vencê-lo pelo cansaço. No espaço de 48 horas forçaram-no sob detenção a várias viagens de automóvel entre o Algarve e Lisboa – e até o levaram ao funeral dos sogros. Jorge, finalmente, baqueou: foi-se abaixo e confessou tudo. Recordou, com raiva incontida, o inferno insuportável em que o sogro lhe transformara a vida.
JULGAMENTO
- Jorge Mendonça aguardou julgamento em prisão preventiva na cadeia de Setúbal
- Começou a ser julgado no Tribunal de Santiago de Cacém em Abril de 1999. O julgamento prolongou-se por um mês
- O advogado de defesa apresentou como atenuantes o historial de maus tratos e enxovalhos a que o arguido foi submetido pelos sogros
- Os juízes, no acórdão que o condenou a 25 anos de cadeia, chamaram-lhe cobarde – porque “nunca teve coragem para dizer ao sogro o que pensava e queria para a sua vida de casado”
Manuel Catarino
4 comentários:
Não percebo o porquê desta história novamente a público, pensei que fosse ler alguma novidade, com novos contornos que essa história pudesse ter tido.
Eu também estou desiludido...sera que este blog esta a ficar enferrujado e não tem mais novidades pra malta...
com espinhas
TVI Style tou a ver ...
qualquer dia estão a fazer posts sobre os alunos da Secundária ( qualquer semelhança com os Morangos Com Açucar será pura coincidência!? )
Coincidencia?... não me parece!
Este blog é o "Morangos & Açucar" da classe politica são-brasense!...
he! he! he!
não há nenhum politico que já não tenha passado por cá!
-->judas<--
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