21 dezembro 2006

A «lapinha» da Madeira e a entronização do Menino no Algarve

As representações do nascimento de Jesus em pinturas, relevos ou frescos começaram a surgir desde o século IV. No ano de 1223, S. Francisco de Assis decidiu celebrar a missa da véspera de Natal com os cidadãos de Assis de forma diferente: assim, esta missa, em vez de ser celebrada no interior de uma igreja, foi celebrada numa gruta, que se situava na floresta de Greccio (ou Grécio), que se situava perto da cidade. S. Francisco transportou para essa gruta um boi e um burro reais e feno, para além disto também colocou na gruta as imagens do Menino Jesus, da Virgem Maria e de S. José.

Os presépios passaram a ser assim entendidos como uma pequena narrativa, inspirada nos relatos dos Evangelhos, mas a verdade é que em Portugal alguns deles representam uma outra interpretação teológica, mais ligada à entronização do Menino.

A região da Provença (sul de França) foi o grande centro de irradiação do presépio com raízes medievais. No Natal, surge o Menino Jesus glorioso, triunfante, o Salvador, o Senhor e Rei do mundo.

Este presépio foi levado pelos portugueses para a Ilha da Madeira, para os Açores e para o Brasil. Em Portugal, ainda podemos ver este presépio no Baixo Alentejo e no Algarve.

O Presépio tradicional algarvio conserva as raízes medievais. É um trono ou altar armado em escadaria. O Menino Jesus está de pé, no cimo do trono. À volta coloca-se verdura, Ramos de laranjeira. Na escadaria colocam-se laranjas e searinhas germinadas.

No início da década de oitenta o Pe. José da Cunha Duarte, pároco de São Brás de Alportel iniciou a recolha das imagens feitas pelos pinta-santos algarvios. Na Igreja Matriz arma-se o presépio tradicional, em escadaria, com laranjas e searinhas e o Menino em cima do trono. A igreja também se reveste de panos como foi tradição nos séculos XVII e XIX.

Lapinha

Na Madeira, este presépio é conhecido como “lapinha”. O Menino Jesus está de pé, no cimo do trono. À volta coloca-se verdura e na escadaria coloca-se fruta com as “searinhas”. Uma lamparina acesa está sempre presente.

As lapinhas madeirenses são armadas sobre uma mesa, tendo como centro uma pequena escada de poucos decímetros de altura, de três lanços contíguos, e no topo da qual se coloca a imagem do Menino Jesus. A imagem apresenta-se com coroa, ceptro real, manto, mundo na mão, para assinalar a realeza e a senhoria de Cristo, de acordo com o espírito medieval.

Este é um património doméstico entre as tradições do Natal, que ocupa lugar primacial no seio das famílias cristãs, e liga tradições religiosas à vida e natureza locais. Desde a Idade Média, resiste a todas as inovações, embora com adaptações próprias de cada local, como sejam as ornamentações com os ramos do arbusto “alegra-campo” e dos fetos “cabrinhas”.

Na Madeira são ainda montadas as chamadas “rochinhas”, com papel pintada sobre uma estrutura que suporta o presépio, ajudando dar a ideia dos montes e vales, com os típicos socalcos.

http://www.agencia.ecclesia.pt/

Sem comentários: