09 abril 2007

Festa da primavera (domingo de páscoa)


As pessoas acumulam-se ao longo do percurso. A vila encheu-se de automóveis, estacionados por todo o lado, que não param de derramar gente pelas ruas. Quem chega, percorre primeiro as ruas atapetadas de flores, vai pingando conversa com os conhecidos, eventualmente toma uma bica e, depois, escolhe um lugar para ficar à espera da procissão. Os homens - pais, filhos, avôs, netos, irmãos, amigos- separam-se das esposas, das mães, das avós, das netas, das amigas, das irmãs e encaminham-se para a igreja, de tocha (ramo mais ou menos escultural, de flores mais ou menos silvestres) na mão.

Os homens desfilam, em «roupa de Domingo», muitos com óculos escuros, todos com ar solidamente «macho», empunhando as «tochas». No caos dos gritos, conseguem ordenar a participação de cada grupo sem se sobreporem - confesso que me fascina esta capacidade de improvisada organização. Um grita, com voz potente, «Ressuscitou como disse», ao que os desse grupo respondem, com voz igualmente máscula e em uníssono «Aleluia! Aleluia! Aleluia!». E enquanto dizem o refrão, param, viram-se para o centro da estrada e erguem 3 vezes a «tocha».

Ao cortejo masculino laico, segue-se o dos membros da igreja, estes já ladeados por mulheres... A fechar, a banda, claro. E mais mulheres, que se vão juntando ao cortejo, depois de ver passar as «tochas». Lembro-me que, quando criança, o que preferia era a música; adorava «marchar» ao compasso da fanfarra, com passos estudadamente largos, imaginavelmente solenes...

As pessoas penduram as colchas nos balcões das janelas e os balões vendem-se bem. Passei por uma mãe que explicava, com voz à beira de um ataque de nervos mas a usar as últimas gotas de benta paciência: «Não, filha, nós não vamos ver os balões, vamos ver a procissão, que é muito bonita.»

Nos cafés, entram homens «vestidos a preceito», com as suas tochas.

A procissão passa sobre as flores, deixando no ar uma sinfonia de perfumes «Ó mãe, cheira a flores!». Depois, é a alegria das crianças, aos pontapés aos despojos florais, a jogar à macaca sobre os restos dos quadrados coloridos, a jogar pétalas ao ar...

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