25 abril 2007

Maria Odete Leonardo da Fonseca

um vulto da cultura algarvia


Maria Odete Leonardo da Fonseca, ou simplesmente Maria de Olhão, nome que utiliza em homenagem à sua terra natal, onde nasceu a 10 de Outubro de 1918, é um vulto da cultura e história do Algarve dos últimos 70 anos.

Descendente de uma antiga família de Olhão, Maria Odete frequentou a Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, onde se licenciou em Filologia Clássica – Curso de Especialização do Ensino a Deficientes Visuais.


Foi durante décadas professora em Lisboa, leccionando no Liceu Passos Manuel e em diferentes colégios particulares.
Transitou para o Quadro Técnico Superior do Ministério da Educação, onde permaneceu até à aposentação. Colocada na Divisão do Ensino Especial, da Direcção Geral do Ensino Secundário, desenvolveu diversas acções de metodologia e coordenação, participando e organizando inúmeras conferências, e cursos com o objectivo de permitir aos deficientes visuais o acesso ao ensino considerado normal.

Colaborou ainda com o Instituto de Deficiência Mental, assim como com a Associação de Pais de Deficientes Mentais, onde se destacou pelo esforço da reintegração social e solidariedade, de uma forma pioneira e criativa.

Colaboradora na revista feminista de Maria de Lamas, Maria Odete será uma lutadora inata, ao longo da sua vida, pelos direitos cívicos das mulheres marginalizadas.

Desde sempre ligada ao Algarve e à cultura algarvia, organizou, ainda no segundo ano da faculdade, um programa intitulado «Tarde Algarvia», que se tornaria num êxito, e um vaticínio para a sua participação na Casa do Algarve em Lisboa, anos mais tarde.

Em pleno Estado Novo, o seu nome impõe-se com grande distinção e respeito no mundo dos homens, facto raro e pouco admitido, ainda para mais sendo uma defensora das liberdades políticas.


Em Junho de 1948, volvidos escassos anos do ressurgimento da Casa do Algarve, Maria Odete proferiu, nesta instituição, um interessante discurso sobre «Povo de Olhão». Teve participação activa nas múltiplas actividades daquela casa regional, colaborando ao longo dos anos em diversas iniciativas de carácter convivial e cultural, sempre em prol do Algarve e dos olhanenses em particular.

Em 1954, colaborou na divulgação da figura de Bernardo de Passos, com o objectivo de angariar fundos para apoiar um movimento que pretendia erguer um busto a este poeta em São Brás de Alportel (monumento inaugurado a 15 de Setembro de 1957).

Em 22 de Abril de 1956, participou numa das maiores manifestações da Casa do Algarve realizada fora da sua sede, a romagem ao túmulo de São Gonçalo de Lagos, em Torres Vedras.


Ainda nos anos 50, sugeriu e participou nas comemorações dos 175 anos da criação do concelho de Olhão, celebrados com o patrocínio da Casa do Algarve, sendo promovida em Lisboa uma «Semana de Olhão».


Propôs mais tarde o enaltecimento de Lutgarda Guimarães de Caires, investigando e coligindo trabalhos seus. Irá recordá-la em 1961, em duas palestras distintas, primeiro em Lisboa e depois em Vila Real de Santo António, terra da homenageada. Palestras que irão culminar na inauguração de um busto a Lutgarda Caires, no centenário do seu nascimento, em 1973 na sua terra natal.


Maria de Olhão desenvolveu uma acção contínua e participativa ao longo de décadas, em todas as acções que a Casa do Algarve desenvolveu, seja ao nível de conferências, tertúlias, ou outras actividades.


Dotada de muita força crítica e sentido social, tem colaborado activamente na imprensa regional, ao longo dos anos, nomeadamente nos periódicos «Correio Olhanense», «Voz de Loulé», «Jornal do Algarve», entre muitos outros. Criou ainda boletins e jornais de parede, na área do ensino.


Em 1987, foi-lhe oferecida a placa comemorativa do XI Encontro dos Jornais Algarvios, realizado em Olhão.


Já em 2002, e por deferência da Câmara Municipal de Olhão, foi madrinha da réplica do caíque Bom Sucesso.


Maria Odete Leonardo é actualmente um dos últimos sobreviventes de quantos se empenharam na viabilidade da Casa do Algarve em Lisboa. Uma instituição que engrandeceu a região, graças aos algarvios que na capital tudo fizeram em prol do desenvolvimento do Algarve.


Maria de Olhão é, pois, indissociável da história daquela Casa, a partir da sua determinação e colaboração activa, constituindo hoje uma figura proeminente da nossa cultura, que merece uma homenagem do Algarve e de todos os algarvios.


Bibliografia:
Joaquim António Nunes, «Regionalismo Cultura e Turismo», Síntese Histórica da Casa do Algarve, Lisboa 1989.

Teodomiro Neto, «Maria de Olhão», JA Magazine, 29 Março 2001.
João Villares, «Quem é Quem em Olhão», Livraria Clinar, Olhão 2004.
Um agradecimento especial ao Dr. Teodomiro Neto e ao poeta Manuel Neto dos Santos.


Aurélio Nuno Cabrita*

*Investigador de história local e regional

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