Desfeita rede criminosa

Imigração: SEF lança operação
em toda a região do Algarve

A investigação durava há mais de ano e meio e os dados recolhidos permitiram partir para o terreno com precisão cirúrgica. Ontem de manhã o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) desencadeou uma operação contra a célula moldava de uma associação criminosa de Leste a operar na região, dedicada à imigração ilegal e ilícitos conexos.

In: Correio da Manhã
foto :Luís Forra / Lusa

Foram detidas oito pessoas e apreendido diverso material, incluindo armas de fogo, em buscas realizadas em domicílios e automóveis.

Eram sete da manhã quando uma centena de inspectores do SEF deu início à operação, para dar cumprimento a 34 mandados judiciais, nomeadamente nove de detenção, 12 de busca domiciliária e 13 de busca de viatura automóvel.

Segundo o CM apurou, as 25 acções de busca realizadas pelos inspectores ao longo da manhã de ontem concentraram-se na zona entre Portimão e Lagos. Mas a operação levou os homens do SEF a intervirem ainda em três obras de construção civil entre Olhão e São Brás de Alportel.

BEM ORGANIZADA

Um dos homens alvo de mandado de captura não foi detido, mas a operação alcançou os seus objectivos. “Apanhámos os responsáveis máximos pela célula e acreditamos que a dinâmica da associação não se irá manter”, disse ao CM José van der Kellen, director regional do SEF no Algarve.

A célula moldava era das mais activas na organização criminosa de Leste activa na região e foi desmantelada após terem sido desarticuladas as suas congéneres ucraniana e georgiana.

A organização mafiosa dedica-se ao apoio à imigração ilegal para, sobretudo, explorar mão-de-obra clandestina na construção civil (ver caixa). Alguns elementos estavam já estabelecidos como subempreiteiros para receberem os trabalhadores clandestinos, e também havia um restaurante no circuito.

O grupo moldavo estava bem estruturado e hieraquizado. “Os seus elementos tinham funções específicas e funcionavam como uma empresa”, diz o director regional do SEF.

José van der Kellen disse ao CM que esta operação colocou a rede de apoio à imigração de Leste em fase de stand-by (paragem) no Algarve. Este responsável salientou, no entanto, que “poderá ainda haver uma boa dinâmica de apoio à imigração ilegal brasileira” na região. Esta “dinâmica” terá uma vertente de maior envolvimento na prostituição, portanto, no tráfico de mulheres. A rede agora travada não estaria muito envolvida nesse meio.

EXPORTAVAM CLANDESTINOS

A rede de apoio à imigração ilegal de Leste para o Algarve não só criava mão-de-obra clandestina como se dedicava a explorar os compatriotas que colocava a trabalhar na construção civil. Os cidadãos ontem detidos são suspeitos da prática de oito crimes.

A saber: auxílio à imigração ilegal, angariação de mão-de-obra ilegal, associação criminosa, falsificação de documentos, extorsão, roubo, furto e escravidão. Entre o material apreendido havia documentos comprovativos de remessas internacionais de numerário, material de impressão para falsificação de documentos, leitores de banda magnética de cartões de crédito e equipamento informático.

PORMENORES

MEDO

A exploração de mão-de-obra clandestina pelos próprios facilitadores da imigração ilegal é um crime difícil de investigar. Há poucas queixas, por medo de retaliação, e o facto vai reflectir-se no inquérito.

VIATURAS

Viciação de viaturas foi também um crime detectado pelos inspectores do SEF. “Interessa perceber o esquema da viciação”, disse fonte próxima da investigação.

CONTRACICLO

Existem 66 mil imigrantes na região, 16 mil dos quais de países da União Europeia. O Algarve está em contraciclo, continuando a atrair imigração. O maior fluxo actual é do Brasil.